Fotos: Ruddy Proença, Dennis Julian, Ermínio Gianatti, Jefferson Rodenwald e Ingo Möller.
Texto: Dennis Julian
O estado do Paraná tem uma divisão bem marcante no seu litoral. Está praticamente repartido no meio. A metade sul foi tomada por municípios e balneários. E a metade norte ficou preservada. Tanto na parte ambiental, como cultural.
Descobri este paraíso primeiro pedalando, depois indo de moto e vez ou outra da janela do avião. Cada vez mais com a certeza de que ali era “o lugar”. Mas precisava ir para a água. E foi lendo um livro do Paulo Leminski, Distraídos Venceremos (e também lembrando da Pedra do Baú), que este dia chegou.
Pensei em reservar para a vida, quando já não agüentasse mais subir montanhas com minhas próprias pernas, a remada e a vela. Mas bem antes disso, que sorte por sinal, sentei num banco de caiaque e parti para a primeira trip.
Nessa, graças à tecnologia, estava em um caiaque equipado com rádio marítimo VHF, GPS, barômetro, termômetro, biruta, banheiro (uma garrafa pet), radinho com música e muito espaço para carga. Mas o equipamento que até hoje mais se destaca nesta embarcação (se falar só “caiaque” fica pejorativo), é a vela. Cerca de 35% desta aventura de 1000km, foi concluída velejando. Tiveram dias que velejamos 25 km.
Outro suporte fundamental foi a Internet (Google Earth), trabalhando junto com o GPS. Sem ele com certeza não faria o que fiz. Através dele também conseguíamos medir as distâncias. E com anotações saber o quanto rodamos. Tudo está registrado em fotografias.
No mar
A expedição, de contexto recreativa exploratória, começou em Antonina, em 2010. Diversas ilhas, rios e a parte oeste da Baía de Paranaguá, foram se desvendando. Ali se forma um verdadeiro parque litorâneo, de frente à cidade. A visão das montanhas nessa região é fantástica.
Entre as aventuras por ali: descemos e voltamos de Morretes à Antonina, pelo Rio Nhundiaquara. Também o Rio do Nunes, Rio Cachoeira e Rio Cacatu, todos ida e volta, desde Antonina. Criamos o Circuito Central de Antonina, que parte da Ponta da Pita, rumo as Ilhas do Teixeira, Gererê e do Lamins. Voltando pelas vilas Eufrasina, Europinha e Ilha da Ponta Grossa, no total de 27km. Circuito exigente e preferido para os treinos de um dia.
Logo descolei mais um caiaque para poder convidar os amigos. Com o Ermínio Gianatti partimos de Pontal do Paraná (com um mar horrível) para a Ilha do Mel. De lá para a Ilha de Superagui e depois até Guaraqueçaba, onde desisti com lesões. Voltei na região com o Ruddy Proença. Mas desta vez partimos do Rio Tagaçaba e fomos, numa viagem de uma semana, até a boca do Canal do Varadouro. De lá voltamos visitando a Baía dos Pinheiros, a RPPN do Sebuí, Guaraqueçaba, os Rios Serra Negra e Asungui, a Enseada do Brito e a Serra do Tromomó.
Com o Jefferson Rodenwald, que já tinha experiência no mar, mas não em caiaques, demos a volta na Ilha do Mel, em 9hrs (30km). Circunavegação casca grossa devido à condição do mar. Foi PUNK e o parceiro se superou. Encontramos vagalhões de mais de 2 metros, perto da Gruta.
Dessa já emendamos mais um giro de uma semana. Partimos de Paranaguá rumo a Ilha de Superagui, e de lá voltamos, só que por Guaraqueçaba. Visitamos a Ilha do Pinheiro (casa do papagaio-de-cara-roxa), a Reserva do Sebuí, a Ilha Rasa, a da Banana e as enseadas do Itaqui e do Tambarutaca. Realizei mais três viagens sozinho, de uma semana cada. Dias intensos de muito aprendizado e superação. Vendo minhas inexperiências se tornando experiências.
Roubadas. O que mais pegou?
Foi na trip que finalizou os 1000 kms, que vivenciamos a pior roubada. Estávamos chegando na Ilha da Banana, para o último bivaque. A correnteza estava muito forte. Arrastava para o mar aberto e já estava quase à noite. Olhei para o GPS, faltava somente um quilômetro. Quando olho para o caiaque do parceiro, vejo que está virado. Foi uma luta o regate. O problema aconteceu no equipamento, por pouco não nos demos mal. Graças à calma dele e a nossa determinação, chegamos em terra. Ufa!
As questões mais difíceis de lidar nessa região, independente da técnica de navegação (resgate, etc), são os mosquitos e o calor do verão. Algumas porções selvagens e pouco habitadas, tornam o isolamento outro fator.
O pior “ser vivo” que existe ali é o mosquito “porvinha”. E o melhor é o povo local. Que leva uma vida pacata, sem pressa. É acolhedor e prestativo. Sempre nos recebendo com sorriso. Convidando para um café. E sedentos para ouvir nossas histórias (roubadas). Mas são eles os grandes mestres deste mar. Que cantam em prosas e trovas no “fandango”, suas histórias para nós.
Um dia me pego lembrando de um veado, que flagrei ao longe tomando água na praia.
Outro, de um cachorro-do-mato, que vimos fazendo o mesmo à noite.
Mas escolho, para fechar essas recordações, a lembrança do amigo Elias, que fizemos lá em Guaraqueçaba. E de todo aquele povo de “alma branca”, que vive nesse paraíso. E compartilha dificuldades e satisfações, nesse pedaço de mar. Bem perto daqui.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
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Olá, Sou Douglas Rezende, no mês que vem chega meu Kayapó oceânico, estou à procura de parceiros de expedições no litoral como estas que descreveu, teria muito a aprender com vocês. Meu mail é douglaswgr@yahoo.com.br
ResponderExcluirGrande abraço e parabéns pela disposição e coragem