Texto: Dennis Julian
Fotos: Dennis Julian, Ruddy Proença e Ingo Moller
Máquinas: Nikon (water resist), Sony A-200 e telefone celular.
A cada onda que domava, era golpeado por borrifos de água na cara. O caiaque se debatia entre as ondas e o vento. Aplicava uma força intensa nos remos, mas minha velocidade não ultrapassava de 2km/h. Cruel para uma travessia como aquela. Pelo cálculo do GPS, ainda demoraria 3hrs para chegar em terra. Muito tempo exposto ao mar e aquelas condições. Mas eu persistia.
Levantei cedo para aproveitar a correnteza da maré. O objetivo, nesta perna da viajem, era concluir a travessia Antonina / Guaraqueçaba (54 km), em quatro dias. Estava sozinho. Eu, muita água salgada, botos-cinza, tartarugas, atobás, colelheiros e a “sonzêra” rolando no ouvido. Mas naquele momento isso passou para um segundo plano. E só me concentrava em “chegar”.
Estava pela primeira vez atravessando o Saco do Tambarutaca, parte norte da Baía de Paranaguá. O vento que eu encarava de frente era o nordeste, que sopra em dias quentes a partir da tarde. Trazendo o que tiver pra trazer. Tempestade com raios, rajadas, ondas. O que tiver na rota. É um vento temido pelos pescadores. Comprovei isso numa atitude desesperada.
Sabia que já havia ido além das minhas expectativas para aquele dia. O que era para ser uma navegação tranqüila, se transformara numa guerra há horas. Então vi uma canoa com dois pescadores vindo em minha direção. Estavam a favor do vento e das ondas. Pedi ajuda já mostrando um cabo para o reboque. O pescador gritava, dizendo ser muito arriscado parar ali. Tinha medo que uma onda o encobrisse pela popa e se foi. Muito rápido, como o vento.
Então, compreendi a situação.
Ou seja, só me restava resistir e cumprir o meu turno de trabalho, pacientemente.
Desta maneira cheguei em terra, próximo a Ponta da Cruz. Apenas 1km da Ilha da Banana, meu objetivo. Que não consegui atingi-lo. Cheguei a tentar, mas o vento e o mar não deram trégua. Estava esgotado física e psicologicamente. Sentia-me sozinho. Hora de se acalmar, se alimentar, hidratar-se.
A tempestade que o vento assoprava em minha direção, havia se dissipado e o sol voltou. Encontrei uma casa de pescador abandonada e armei minha barraca - principal proteção contra os mosquitos. Mesmo com a situação controlada, não resisti ficar. Sentia-me isolado, numa imensidão selvagem. Precisava me preparar melhor para voltar mais forte.
Desmontei o acampamento, arrumei tudo no caiaque e voltei pelo mesmo mar. Talvez um pouco mais calmo, mas desta vez a favor do vento e das ondas. Neste dia somei 43 km navegados. Umas dez horas na labuta do remo.
Não havia desistido desta travessia e uma semana depois estaria lá, novamente. Só que desta vez dormindo na cova do excepcional bloco de bolder, na Ilha da Banana. Mais uma vez sozinho, mas muito feliz e seguro de si.
Canoagem
Comecei navegar em caiaque, em 2010. Num verão chuvoso que mal dava para pensar em escalar. Desde o começo, criei uma relação entre a canoagem e a montanha. Sempre buscando represas, rios e baías próximas a Serra. Minha principal motivação sempre foi conhecer lugares selvagens. A fauna, flora e cultura local. Cantinhos que só se chegam por água.
Uso um caiaque de plástico rotomoldado, estilo “pesca”, com fins únicos para exploração. Sua capacidade de carga ultrapassa 150 kg. Ótimo de estabilidade e equipado com vela. Cerca de 25% desta viajem foi realizada somente na vela. Diríamos: um micro-veleiro ou um super caiaque.
Um rolê nas baías do Paraná
Nesta temporada negociei com a “patroa” o alvará de soltura solicitado para as escaladas no sul. Viajaria o mesmo período que estaria lá, só que por aqui. E assim cumpri, no prazo de um mês, 350km de navegação pelas baías de Antonina, Paranaguá e Guaraqueçaba.
Foram três etapas, intercaladas com voltas para a casa. Vinha estudar novas rotas, ver a família, dar uma folga na solidão e descansar dos pernilongos.
Carregava o GPS de “waypoints” e voltava ao mar. Para conhecer de perto tudo o que planejava na tela do computador. Esse vai e vem ajudou na aclimatação. Cada vez que lá voltava, embarcava com mais respeito e humildade. E o resultado disso foi: força!
Passei 12 dias viajando sozinho. Até que numa dessas voltas adquiri mais um caiaque. Então pude convidar o parceiro Ruddy Proença para a próxima etapa. Agora podíamos ir a fundo na exploração. Meu amigo, sempre motivado, insistia em conhecer as regiões mais selvagens da Baía de Guaraqueçaba. E assim ficamos viajando por cinco dias nesta região. Finalizando a exploração da Baía de Paranaguá e de suas principais entranhas.
Nesta “trip” partimos de Tagaçaba, descendo o rio com o mesmo nome, até a Enseada do Benito. Cruzamos esta e toda a Baía de Guaraqueçaba, até atingir a Baía dos Pinheiros. Trecho marcado pela presença de dois “furados” - canais que formam um labirinto exigindo conhecimento de quem os atravessa. Contávamos com a ajuda de um GPS.
Na primeira noite pousamos na Ilha do Pinheiro, 35km de onde partimos. Fomos lá ver de perto o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), pássaro em extinção, que por ali vive em bandos. Depois seguimos para o Rio Sebuí. Uma reserva particular vigiada pelo Seu João. Pessoa incrível, patrimônio cultural e científico local. Ele nos contou em forma de poesia e de cantigas de fandango, histórias de bichos que vivem naquelas encostas quase que primárias de Mata Atlântica. Mostrou a pegada da onça e nos indicou o caminho das cachoeiras, da qual me nego dar dicas. (rsrs)
Finalizamos esta perna da rolê com 150km vencidos, em condições favoráveis. Visitamos ainda a Serra do Tromomó, onde namoramos por horas a sua parede. Subimos parte do Rio Serra Negra e Açungui, até onde não foi mais possível remar. Ficamos esses cinco dias com os celulares sem dar algum sinal, “fora da área de serviço, ou desligados”.
Alguns lugares visitados nestas expedições: Ilha do Barba, Ilha do Teixeira, Ilhas do Lamim, Ilhas Gererê, Ilha da Banana, Ilha do Corisco, Ilha do Amparo, Ilha do Pinheiro, Ilha Ponta Grossa, Ponta da Cruz, Rio Nhundiaquara, Rio do Nunes, Rio Cacatu, Rio Açungui, Vila Europinha, Vila Piaçagüera, Vila Eufrasina, Vila Tibicanga, Vila Canudal, Vila Bertioga, Praia do Ubá, RPPN do Sebuí e RPPN do Tromomó.
Dennis!!!! Que legal ver isso!!!! Abraço forte!!!!!! Gra
ResponderExcluirJá li sua história em uns 3 anos diferentes sempre gosto de encontrar pra ler essa aventura kkkk sou de Paranaguá e achei sem querer uma vez
ResponderExcluirFacebook Gustavo Rosin acha lá quando lembrar que isso aqui existe kkkk