Pedralva e Pedra do Baú
De última hora (como normalmente acontece), resolvemos aproveitar o feriado para uma viagem de quatro dias com destino a Pedralva em Minas Gerais e para a Pedra do Baú que fica na divisa de Minas com São Paulo.
Dos quatro dias, dois foram para a estrada, aproveitamos para inaugurar a recém comprada caminhonete do Robson, uma L-200 maneiríssima. Logo nas primeiras curvas da serra na Br-116 ela deu uma rabeada boa e o Robson falou: - “bom é que eu vou aprender a dirigir ela nessa viagem” – eu vinha de uma noite não dormida e isso aconteceu logo no meu primeiro cochilo, resultado..., não dormi mais. São 700km de estrada de Curitiba até Pedralva e um bom choque cultural. Ô sôô, cê tá im Minas, uai !!!
Os caras (Marcelo, Sil e Robson) eram um pouco inexperientes e não botaram fé quando eu falei – “vamos acordar cedo” – bom, logo chegando na base da via o Marcelo falou: - “mas só tem essa pedra para escalar, eu quero escalar o dia todo”, logo ele percebeu que tinha muita pedra ali e lá fomos nós. Escalamos até a oitava parada e tivemos que deixar para uma outra oportunidade o restante da via que são ao todo dez cordadas, escureceu. Rapelamos ainda à noite e para fechar a aventura nos perdemos por um bom tempo num capinzal de ‘capim gordura’ que foi uma delícia, o corpo tava suado, pegou aquela gordura nas pernas com bermuda e depois caiu um frio de rachar..., sensação inesquecível.
Todo mundo se conscientizou o porque não conseguimos completar a via que não era para demorar, em 2002 tinha estado lá com o Capachão e o França e escalamos ela em duas horas e meia. Essa viagem era para isso, para adquirir experiência em paredes grandes e essa era a primeira deles, sem dizer que o Marcelo e a Silvana não tinha nem um ano (seis meses) de montanha e o Robson um pouco mais. A via que entramos é a Evolução (5º VI) de 370 metros.
Seguimos para São Bento de Sapucaí direto da escalada, fato curioso foi que me deu uma diarréia “speed os flah” e eu quase rachei o vaso sanitário de um banheiro na estrada, como ele não tinha o assento tive que me agachar (sabe como?) e veio com muita pressão (impressionante), espirrou por todo o banheiro, que susto ! Como o papel higiênico era pouco, não deu para limpar e eu corri para a caminhonete pedindo para o Robsone arrancar, quando saímos vi o dono do lugar inda para o banheiro..., “me desculpe seu moço, foi coisa do além !”.
No decorrer da viagem mesmo depois do susto intestinal me abracei num vinhão e chegamos a São Bento, quebrados e embriagados (calma, era uma garrafa de vinho para os quatro). Fomos para o abrigo de montanha do Eliseu (Montanhismus), dormimos e logo vi que a galera estava começando aprender a lição..., acordamos muito cedo.
O objetivo agora era o conjunto da Pedra do Baú, um imenso monolito onde se encontram vias clássicas, muita verticalidade e um “mar sem fim” de problemas, medos e muita aventura. Começamos por uma via fácil no Bauzinho, a Galba (4ºsup V+) - 200m, depois fomos para a Baú, ai o Robson e o Marcelo se enrolaram e eu e a Silvana fomos à frente, rapelamos a face sul e logo estávamos no ‘col’ um lugar muito louco com paredões dos dois lados, uma crista as vezes afiada com uma faca onde você deve respirar fundo e ir. Eu estava meio adrenadão, a Sil só sorria, pensei em voltar e ela me olhava com uma cara de quem estava no Shopping, estava tudo bem, porque ter medo ? Fui, fui, fui..., chegamos em dois lances técnicos que fizemos sem corda (que pavor), logo estávamos na base da via. Já quase começava a escurecer quando começamos a via Cresta (3º IVsup) e para imendarmos com a Anormal (3º IIIsup), escalamos com um mineiro que não lembro o nome. Fotos no cume e ripa para baixo ! Malditos rapeis !!!
“Quem tem medo, chama medo”.
No meio do rapel (nesse momento a Sil já tinha descido) quando estávamos entrando no último deles a corda prendeu, tinha dado uma volta em uma agarra (imagine o tamanho da agarra), um outro mineiro (dono da corda) subiu para soltá-la, estávamos debaixo do teto do Baú, num lugar além de vertical, eu só pensava nos lances que a gente ia passar na volta, já que o caminho voltava pelo mesmo lugar. Descemos e logo encontramos a Sil parada no lance ruim, surpresafoi descobrir que nos próximos lances haviam cordas, logo as reconheci e vi que eram do Robson (gente boa), ele se preocupou e deixou-as ali. Quando encontramos com todos no meio da crista o Marcelo achou que eu e a Silvana estávamos bravos com ele e por isso ficamos se amarrando no cume, ele não sabia do perrengue no rapel. Descemos o resto da crista e quase no final do caminho, já na trilha o Robson some num buraco, só ficou três dedos da mão numa arvorezinha do tamanho de uma caneta, seus dedos e a árvore o livraram de uma queda muito grande onde sabe lá onde ia dar. A sua reação foi uma risada calma e serena: - “háa, háa, háaa !” (figuráço). Acabamos caindo na night em São Bento, vendo uma banda bem legal tocar, encontrando amigos e voltando mais uma vez quebrados e embriagados para o alberge (dessa vez vocês podem se preocupar), rsrsrs !!!
Dia de voltar..., estrada, feriadão em Sampa, movimento, mas antes um pão com queijo (de Minas) e um café com leite numa padóca maneira no centrinho de São Bento. Logo que entramos no carro queríamos achar na rádio alguém falando com o sotaque mineiro, durante a viagem esse tinha sido o motivo de muita risada e logo encontramos um cara numa rádio de crente que disse: “as reuniões são sábado a tardchiii e domingo a noitchiiii” - a gente riu muito. Voltamos por um caminho diferente, uma serra sinuosa que passava por Monteiro Lobato, cidade histórica e polêmica que envolve a vida do escritor, tudo era meio Sítio do Pica-pau Amarelo, para finalizar, de repente a gente vê a Emília pendurada num poste, mas vocês acreditam que ela estava toda vestida de roupa sado-masoquista, ficamos sem entender nada !!!!
em amarelo é a Evolução (5º VI) com 370 metros.
A primeira cordada da Evolução é bem fácil, um 3º ou 4º grau,
mas a rocha é diferente e cheia de laquinhas, ai começa o treino.
mas a rocha é diferente e cheia de laquinhas, ai começa o treino.
A Silvana guiando a sexta cordada (5º sup), o Robson aparece
a 50 metros abaixo na P5. Olha a calma da gatinha !
a 50 metros abaixo na P5. Olha a calma da gatinha !
A Pedra do Bau com 1.950 m é um grande símbolo para a escalada
no Brasil, nesta face está as duas vias que nós escalamos.
O quarteto: (esq./dir.) Robson (Taliban), o Marcelo, a Silvana e eu.